0 Nisto Pensai - John Owen ( 1616-1683 )
Estejamos absolutamente
certos de que essa glória de Cristo em Suas naturezas divina e humana é o
melhor, o mais nobre e o mais útil objeto em que podemos pensar. O apóstolo
Paulo afirma que todas as outras coisas são apenas perda e quando comparadas
com ela, como estéreo (Filipenses 3:8-10). As Escrituras falam da estultícia
das pessoas em gastar "...o dinheiro naquilo que não é pão, e o produto do
seu trabalho naquilo que não pode satisfazer" (Isaías 55:2). Eles fixam
seus pensamentos em seus prazeres pecaminosos, e se recusam de olhar para a
glória de Cristo. Alguns chegam a ter pensamentos mais elevados sobre as obras
da criação de Deus e de Sua providência, mas não há glória nessas coisas que se
possa comparar com a glória das duas naturezas de Cristo. No Salmo oito, Davi
está meditando na grandeza das obras de Deus.
Isto o faz pensar na
pobre e fraca natureza do homem, que parece como nada se comparada àquelas
glórias. Então ele começa a admirar a sabedoria, amor e bondade de Deus por
exaltar acima de todas as obras da criação a nossa natureza humana que estava
em Jesus Cristo. O autor sagrado explica isto em Hebreus 2:5-6.
Como são agradáveis e
desejáveis as coisas deste mundo — esposa, filhos, amigos, posses, poder e
honra! Mas a pessoa que tem todas estas coisas e também o conhecimento da
glória de Cristo dirá: "A quem tenho eu no céu senão a ti? e na terra não
há quem eu deseje além de ti" (Salmo 73:25) pois "Quem no céu se pode
igualar ao Senhor? Quem é semelhante ao Senhor entre os filhos dos
poderosos?" (Salmo 89:6). Apenas uma olhada na gloriosa beleza de Cristo é
suficiente para vencer e capturar os nossos corações. Se não estamos olhando
com freqüência para Ele, refletindo sobre a Sua glória, é porque as nossas
mentes estão muito cheias de pensamentos terrenos. Desta forma, não estamos nos
apossando da promessa de que nossos olhos verão o Rei em Sua beleza.
Uma das atividades da
fé consiste em examinar as Escrituras, porque elas declaram a verdade sobre
Cristo (veja João 5:39). Vamos ver a glória de Cristo nas Escrituras de três
modos:
i. Por meio de descrições
diretas de Sua encarnação e Seu caráter como Deus-homem. Gênesis 3:15; Salmos
2:7-9; 45:2-6; 78:17-18 e 110:1-7; Isaías 6:1-4; 9:6; Zacarias 3:8; João 1:1-3;
Filipenses 2:6-8; Hebreus 1:1-3; 2:4-16; Apocalipse 1:17-18.
ii. Mediante numerosas
profecias, promessas e outras expressões que nos levam a considerar Sua glória.
iii. Pelos exemplos de
adoração divina que Deus instituiu no Velho Testamento e pelo testemunho direto
dado a Ele do céu no Novo Testamento. Isaías disse: "Eu vi ao Senhor
assentado sobre um alto e sublime trono; e o seu séquito enchia o templo"
(Isaías 6:1). Esta visão de Cristo foi tão gloriosa que os serafins (criaturas
celestiais que assistem nos céus) tiveram que cobrir as suas faces. Contudo,
maior ainda foi a glória revelada abertamente nos dias apostólicos! Pedro nos
diz que ele e os outros apóstolos foram testemunhas oculares da majestade do
Senhor Jesus Cristo.
"Porque não vos
fizemos saber a virtude e a vinda do nosso Senhor Jesus Cristo, segundo fábulas
artificialmente compostas: mas nós mesmos vimos a sua majestade. Porquanto ele
recebeu de Deus Pai honra e glória, quando da magnífica glória lhe foi dirigida
a seguinte voz: Este é o meu filho amado, em quem me tenho comprazido" (II
Pedro 1:16-17). Deveríamos ser como o que procura por todo tipo de pérolas.
Quando ele encontra uma de grande preço, vende tudo o que possui para que possa
adquiri-la. (Mateus 13:45-46). Cada verdade das Sagradas Escrituras é uma
pérola que nos enriquece espiritualmente, mas quando nos deparamos com a glória
de Cristo encontramos tanta alegria que nunca mais desejaremos dispor dessa
pérola de grande valor.
O glorioso da Bíblia é
que agora ela é a única forma tangível de nos ensinar sobre a glória de Cristo.
3. Devemos meditar freqüentemente sobre o conhecimento da glória de Cristo que
obtemos da Bíblia. As nossas mentes devem ser espirituais e santas e libertas
de todos os cuidados e afeições terrenos. A pessoa que não medita agora com
prazer na glória de Cristo nas Escrituras, não terá nenhum desejo de ver aquela
glória nos céus. Que tipo de fé e amor têm as pessoas que acham tempo para
meditar sobre muitas outras coisas, mas não têm tempo para meditar neste
assunto glorioso?
Os nossos pensamentos
devem se voltar para Cristo sempre que haja uma oportunidade a qualquer hora do
dia. Se somos verdadeiros crentes e se a Palavra de Deus está em nossos
pensamentos, Cristo está perto de nós (Romanos 10:8). Nós O encontraremos
pronto para falar conosco e manter comunhão. Ele diz: "Eis que estou à
porta, e bato: se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua
casa, e com ele cearei, e ele comigo" (Apocalipse 3:20). E verdade que há
momentos em que Ele Se retira de nós e não podemos ouvir a Sua voz.
E quando isso acontece,
não podemos ficar contentes. Devemos ser como a noiva no Cântico de Salomão
3:1-4: "De noite busquei em minha cama aquele a quem ama a minha alma:
busquei-o, e não o achei. Levantar-me-ei, pois e rodearei a cidade; pelas ruas
e pelas praças buscarei aquele a quem ama a minha alma; busquei-o, e não o
achei. Acharam-me os guardas, que rondavam pela cidade; eu perguntei-lhes:
vistes aquele a quem ama a minha alma? Apartando-me eu um pouco deles, logo
achei aquele a quem ama a minha alma: detive-o, até que o introduzi em casa de
minha mãe, na câmara daquela que me gerou".
A experiência da vida
espiritual de um cristão é forte em proporção aos seus pensamentos sobre Cristo
que nele habita e seu deleite nEle (Gaiatas 2:20). Se tivermos deixado Cristo
ausente de nossas mentes por muito tempo, devemos nos censurar por isso.
Todos os nossos
pensamentos sobre Cristo e Sua glória devem ser acompanhados de admiração,
adoração e ações de graças. Somos convidados a amar o Senhor com toda a nossa
alma, mente e força (Marcos 12:30). Se somos verdadeiros crentes, a graça de
Cristo opera em nossas mentes e almas renovadas e nos ajuda a fazer isso. Na
vinda de Cristo como juiz no último dia, os crentes ficarão cheios de um
tremendo sentimento de admiração por Sua gloriosa aparência — "...quando
vier para ser glorificado nos seus santos, e para se fazer admirável naquele
dia em todos os que crêem" (II Tessalonicenses 1:10). Essa admiração se
transformará em adoração e ações de graças; um exemplo disso é dado em
Apocalipse 5:9-13, onde toda a Igreja dos redimidos canta um novo cântico.
"E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro, e de
abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus
homens de toda tribo, e língua, e povo, e nação; e para o nosso Deus os fizeste reis e
sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra.
E olhei, e ouvi a voz
de muitos anjos ao redor do trono, e dos animais, e dos anciãos; e era o número
deles milhares de milhares e milhões de milhões, que com grande voz diziam:
Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria,
e força, e honra, e glória e ações de graças. E ouvi a toda criatura que está
no céu, e na terra, e debaixo da terra, e que está no mar, e a todas as coisas
que neles há, dizer: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam
dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre".
Há algumas pessoas que
têm esperança de ser salvos por Cristo e de ver a Sua glória num outro mundo,
porém não estão interessados em meditar, pela fé naquela glória neste mundo.
Elas são semelhantes a Marta, que estava preocupada com muitas coisas e não com
Maria, que escolheu a melhor parte, sentando-se aos pés de Cristo (Lucas
10:38-42). Que tais pessoas tomem muito cuidado para que não negligenciem nem
desprezem o que deveriam fazer.
Alguns dizem que têm o
desejo de contemplar a glória de Cristo pela fé, mas quando começam a
considerar essa glória, eles acham que é coisa muito elevada e difícil. Eles
ficam maravilhados, à semelhança dos discípulos no Monte da Transfiguração.
Admito que a fraqueza de nossas mentes e a nossa falta de habilidade para
entender bem a eterna glória de Cristo nos impede de manter os nossos
pensamentos numa meditação firme e constante por muito tempo. Aqueles que não
têm a prática e habilidade de uma santa meditação em geral não terão a
capacidade de meditar neste mistério em particular. Mas, mesmo assim, quando a
fé não consegue mais manter abertos os olhos do nosso entendimento para
refletir sobre o Sol da Justiça brilhando em Sua beleza, pelo menos, pela fé
ainda podemos descansar em santa admiração e amor.
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